Todos querem agora saber os bastidores do Fed
Sindicato de Ladrões (1954)
Lá fora, os mercados asiáticos subiram nesta quinta-feira (28), digerindo bem a alta verificada ontem em Wall Street, alimentada por esperanças de que o Federal Reserve possa desacelerar seu ritmo de aumentos das taxas de juros para combater a inflação. O fato de o presidente do Fed, Jerome Powell, comentar em sua coletiva que não acha que os EUA estão atualmente em recessão ajudou a melhorar o humor dos mercados.
Depois da grande alta de quarta-feira (27), no entanto, os futuros americanos amanhecem em queda hoje, acompanhando um desempenho misto dos mercados europeus, os quais também enfrentam uma grave crise energética. Considerando a conjuntura, há uma chance de que a alta depois da decisão do Fed faça parte do que o mercado chama de "bear market rally", podendo ter, portanto, vida curta.
A ver...
Entre recuos na curva de juros e dados fiscais
No Brasil, junto com as quedas dos yields das treasuries americanas, os nossos juros também caíram. O movimento é uma continuidade da queda que já acontecia depois de a prévia da inflação oficial de julho, o IPCA-15, ter apresentado uma alta de 0,13% na comparação mensal, sendo um número abaixo das expectativas de mercado e consideravelmente mais fraco do que o indicador de junho. Recuos na curva são importantes para a sanidade do governo, dado que haja alívio no serviço da dívida.
Para a agenda do dia, enquanto acompanhamos os desdobramentos políticos das convenções partidárias, temos hoje a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, na reunião ordinária do Conselho Brasil–OCDE, concedendo mais tarde entrevista ao jornal da Bloomberg na Austrália (percepções do ministro serão importantes). Na sequência, ainda temos os dados fiscais do Tesouro Nacional, de emprego do Ministério do Trabalho e de serviços da FGV.
Os 75 pontos-base vieram
Nos EUA, o Federal Reserve veio menos agressivo do que o temido, mesmo que ainda se apresente como bastante focado no combate à inflação, o que era exatamente o que os mercados queriam. Em sua decisão, o banco central elevou as taxas de juros em 75 pontos-base pela segunda vez seguida, para a faixa alvo de 2,25% a 2,50%.
Na coletiva de imprensa que acompanhou o resultado da reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu uma economia em desaceleração, enquanto ainda enfatizava que a inflação estava inaceitavelmente alta.
A direção que a política do Fed toma a partir daqui, no entanto, não é tão clara. Dependerá em primeiro lugar do que os dados econômicos futuros mostrarem até a próxima reunião de política do banco central, no final de setembro — o mercado de futuros aponta para 2/3 de probabilidades de um aumento de 50 pontos em setembro.
Dessa forma, o mercado espera que o Fed diminua o ritmo de aperto, o que seria sensato, visto que Powell defende a busca de um "soft landing" ("aterrissagem econômica suave"). A história do aperto monetário americano ainda está longe do fim.
Anote aí!
Na agenda, contamos com a temporada de resultados americana, que apresenta nomes como Apple, Amazon, Samsung, Harley-Davidson, Volkswagen, Roku, Pfizer, Merck, Intel, Mastercard e Shell.
Em se tratando de dados econômicos, acompanhamos a divulgação da estimativa preliminar para o produto interno bruto do segundo trimestre de 2022 nos EUA — a revisão é de uma taxa de crescimento de 0,8%, após uma contração de 1,6% no primeiro trimestre.
Na Alemanha, os investidores digerem a inflação de preços ao consumidor de julho, enquanto o Brasil aguarda as pesquisas de sucessão presidencial, os dados sobre o emprego (Caged) em junho, o resultado das contas do Governo Central de junho e as sondagens de serviços e comércio em julho.
Muda o que na minha vida?
Um incêndio florestal na Sierra Nevada, nos arredores do Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, já queimou mais de 14 mil acres, forçando milhares de moradores a fugir. Trata-se do maior incêndio da Califórnia nesta temporada, mas muito provavelmente não será o último.
O governador Gavin Newsom declarou estado de emergência no condado de Mariposa depois que as chamas forçaram a evacuação de mais de 3 mil moradores, que fugiam das altas temperaturas, seca extrema, falta de combustíveis e ventos intensos, os quais aumentaram a propagação do fogo.
A Califórnia, assim como alguns países europeus, como Portugal, Espanha e Itália, vivem hoje ondas de calor, talvez as mais quentes e secas nos últimos 30 anos. Por conta da mudança climática, os cientistas esperam que o clima extremo e os incêndios florestais se tornem mais frequentes, destrutivos e imprevisíveis.
Em várias regiões, o calor e a seca prolongada estão ameaçando o milho, a soja e outras culturas, além de secar as pastagens, representar riscos para as aves e forçar os pecuaristas a gastar mais com alimentação e cuidados com o gado. A crise alimentar, que já é severa, pode encontrar mais desafios ainda em 2022.
Newsletter publicada no dia 28/07/2022