Observando a arte de se fazer política monetária
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)
Como se comportar durante a apresentação de uma prévia?
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta terça-feira (26), acompanhando o desempenho do Ocidente verificado ontem, ainda que os investidores permaneçam cautelosos diante da temporada de resultados, dos dados do PIB dos EUA e do anúncio de política monetária do Federal Reserve nesta quarta-feira (a reunião começa hoje). As notícias de novos casos de Covid-19 na China alcançando o nível mais baixo em mais de uma semana ajudaram, assim como o crescimento mais forte da economia da Coreia do Sul, que também serviu de suporte.
Na Europa, porém, assim como nos futuros americanos, o humor mais relevante é o negativo, em meio a investidores que temem aumentos mais agressivos de juros pelo Fed para conter a inflação que está na máxima de quatro décadas (acelerou para 9,1% em junho), o que poderia inviabilizar o crescimento econômico global. A economia dos EUA está desacelerando, mas contratações saudáveis mostram que não está em recessão ainda. O Brasil surfa neste contexto de maior preocupação em meio à divulgação da prévia oficial da inflação de julho.
A ver...
O nome é IPCA-15
No Brasil, o vetor mais relevante é a divulgação pelo IBGE do IPCA-15 de julho, a prévia da inflação oficial, a qual já poderá apresentar sinais de desinflação depois das iniciativas do governo federal e dos governos estaduais sobre os combustíveis — veremos o impacto da redução do ICMS, por exemplo.
As estimativas vão de queda de 0,70% para alta de 0,70% na comparação mensal, tendo a mediana repousada em 0,16%. Se a mediana se confirmar, será uma desaceleração considerável frente ao 0,69% observado em junho. Em 12 meses, a inflação deverá ser de 11,41%, o que mostraria que o pico da inflação se deu em junho.
A partir de agora, com o possível arrefecimento da inflação e com vários estímulos no gatilho para serem disponibilizados, o presidente Bolsonaro pode ganhar tração nas pesquisas, sedimentando ainda mais a chance de um segundo turno entre ele e o ex-presidente Lula, em meio à intensificação do processo eleitoral.
Que comece a reunião do Fed
Os investidores estão voltados para a reunião de política do Federal Reserve desta semana, que começa hoje e apresenta sua decisão na quarta-feira. Predominantemente, o mercado espera uma elevação de 75 pontos-base da taxa de juros americana, colocando-a na faixa entre 2,25% e 2,50%, nível atingido no pico do último ciclo de alta de juros em 2019.
No entanto, surpresas como a da semana passada durante a reunião de política monetária do BCE, que elevou em 50 pontos-base a sua taxa de referência, ao invés de 25 pontos, são possíveis, o que poderia levar a uma exacerbação da volatilidade do mercado. Hoje, cerca de 20% dos investidores esperam uma alta de 100 pontos-base. A dúvida fica, portanto, para os próximos passos.
A expectativa é de que o Fed mantenha seu tom hawkish (contracionista), mas não se comprometa com novas altas definidas desde já, se tornando cada vez mais dependente dos dados econômicos. O ritmo da próxima reunião já deverá ser mais leve, menos acelerado, visando encerrar o ano na faixa entre 3,50% e 3,75%.
Resultados corporativos sensíveis à inflação
A prévia operacional de Walmart não agradou o mercado, quando a empresa alertou que a inflação estava destruindo o poder de compra dos consumidores, indicando resultados menores neste ano do que a administração havia previsto anteriormente.
Consequentemente, a gigante do varejo agora espera que sua receita operacional caia de 11% a 13% neste ano fiscal. O motivo? Bem, os níveis crescentes de inflação de alimentos e combustíveis estão afetando a forma como os clientes gastam.
Resumidamente, o Walmart vem precisando cada vez mais descontar seus produtos para liquidar o estoque, o que é ruim para as margens de lucro. Mais da temporada de resultados será entregue hoje com nomes como Alphabet, Visa, UPS, Microsoft, Kimberly-Clark, Mondelez International, Unilever, 3M, Chipotle Mexican Grill, Raytheon Technologies, Moody’s, McDonald’s, General Motors, Coca-Cola e General Electric.
Anote aí!
Na agenda, nos EUA, temos a divulgação do índice de confiança do consumidor para julho, o índice nacional de preços de casas para maio e os novos dados de vendas de casas residenciais para junho. No Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, almoça com o presidente do Banco Central, Roberto Campos. Entre os dados econômicos, contamos com o IPCA-15 de julho e a confiança da construção em julho.
Muda o que na minha vida?
A Gazprom da Rússia sinalizou que pretende reduzir pela metade o fornecimento de gás Nord Stream 1 para a Europa para 20% da capacidade. Desligar totalmente o fornecimento de gás causaria uma grave crise econômica, mas o choque também causaria mudanças abruptas de comportamento do consumidor europeu.
A empresa estatal de energia disse que a redução da oferta se deve a um problema na turbina e culpou as sanções ocidentais, enquanto autoridades europeias disseram que a Rússia está retaliando a Europa Ocidental pelo apoio à Ucrânia.
Se antecipando a isso, ontem, ações de energia foram os maiores ganhos dos mercados, impulsionadas por um aumento nos preços do petróleo e do gás.
Alguns nomes brasileiros se beneficiam nesta segunda-feira desse movimento, como foi o caso da Petrobras e de outras petroleiras. Por outro lado, novas pressões nas commodities energéticas poderão proporcionar novas altas da inflação.
Newsletter publicada no dia 26/07/2022