Um novo tipo de intriga internacional: as autoridades monetárias não alcançam a inflação
Intriga Internacional (1959)
Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a quinta-feira (14) sem direção bem definida, apesar de um relatório de inflação recorde nos EUA, que apontou para mais possíveis aumentos nas taxas de juros, podendo esfriar agressivamente o crescimento econômico global — os investidores temem que as ações dos bancos centrais, em resposta à inflação, possam inviabilizar o crescimento econômico global.
Os mercados europeus abrem em queda hoje, acompanhados pelos futuros americanos. Além do Federal Reserve, as autoridades monetárias da Grã-Bretanha, Coréia do Sul e alguns outros países também aumentaram as taxas para esfriar os preços em alta, sendo que o Banco Central Europeu tem planos semelhantes. Em meio aos imbróglios políticos, os ativos brasileiros são embalados pelo pessimismo.
A ver...
A PEC das Bondades foi finalmente aprovada
No Brasil, os investidores repercutem a PEC dos Combustíveis, finalmente aprovada por maioria esmagadora pelas casas legislativas nacionais. A proposta segue agora para ser promulgada em sessão solene na sexta-feira (15).
Entre os vários apelidos do projeto, chamou a atenção o nome de "Kamikaze", baseado na crítica sobre o custo do pacote de R$ 41,25 bilhões para ampliar benefícios sociais e criar programas novos, como o Auxílio Brasil, que passar a ser de R$ 600 até o final do ano, o Voucher Caminhoneiro, de R$ 1 mil, o Auxílio Taxista, de R$ 200 mensais, o Vale Gás, de R$ 120, entre outros.
O movimento só foi possível graças a mais um esgarçamento do teto de gastos públicos, derivado da determinação de um estado de emergência em resposta à imprevisibilidade dos combustíveis e dos impactos sociais decorrentes dessa instabilidade. Naturalmente, o choque é prejudicial para a percepção de risco doméstico, fato que jogou a curva de juros brasileira para cima.
E a inflação ao consumidor surpreendeu
Nos EUA, o relatório mensal de inflação confirmou que os preços continuam subindo. Em junho, os preços ao consumidor aumentaram 9,1% em relação ao ano anterior, acima da expectativa do mercado, que esperava uma alta de 8,8%. O número consolida a continuidade da escalada da inflação americana, que está em seu patamar mais alto em 40 anos, renovando mensalmente essa marca — a alta mensal de 1,3% em junho foi a mais alta desde o início da pandemia.
Com isso, muitos no mercado começaram a cogitar um aumento de 100 pontos-base da taxa de juros americana (85% de chance segundo o mercado de futuros), naquilo que seria a maior alta do Fed desde 1980, mas justificável em meio ao descontrole inflacionário.
Um movimento parecido aconteceu quando a alta foi de 75 pontos na última reunião, o maior aumento desde 1994. Ou seja, há uma chance de o Fed realmente tornar sua passada mais agressiva, afetando profundamente os mercados, que provavelmente renovaria as mínimas.
Para hoje, vale ficar atento ao índice de preços ao produtor para junho dos EUA. As expectativas são de um aumento anual de 10,7% e um salto de 8,2% no indicador núcleo, que exclui os itens mais voláteis. Isto é, o mercado precifica uma desaceleração frente aos números de maio. Contudo, dado o contexto, não seria impossível acreditar que estes números poderiam superar as expectativas.
Perdendo a mão
Nas economias desenvolvidas, os bancos centrais estão com uma dificuldade enorme para controlar as expectativas de inflação. Para que a política monetária volte a ser efetiva, é provável que as autoridades monetárias precisem projetar desinflação e deflação nos preços que podem influenciar, de modo a mais do que compensar a inflação nos preços que não podem influenciar.
Consequentemente, uma recessão acaba sendo bastante possível.
Ao que tudo indica, a volatilidade dos mercados é fruto de erros de política monetária de instituições como o Fed. Mais recentemente, o BC americano decidiu ancorar as expectativas sobre o índice de preços ao consumidor, que costumava ser secundário frente ao PCE, por exemplo. O movimento deixou o mercado ainda mais sensível aos dados de inflação, sendo refém de surpresas como a de ontem.
Anote aí!
A parte mais importante do início da temporada de resultados dos EUA começa hoje, com os números do JPMorgan Chase e Morgan Stanley a serem divulgados nesta quinta-feira, seguidos por Citigroup e Wells Fargo na sexta-feira. Em território americano, ainda contamos com os pedidos iniciais de seguro-desemprego e o índice de preços ao produtor.
Por aqui, depois de votarmos a PEC das Bondades, o Congresso deve analisar vetos presidenciais. Contudo, tais discussões devem ficar para o próximo semestre. O Ministério da Economia divulga o Boletim Macrofiscal e atualização de projeções de indicadores macroeconômicos, contando com coletiva do ministro Paulo Guedes para comentar os dados. Além disso, temos o IBC-Br (prévia do PIB) de maio.
Muda o que na minha vida?
O presidente Joe Biden chegou ontem (13) ao Oriente Médio, buscando intermediar tratativas para o aumento da produção de petróleo, que poderia mitigar o impacto dos preços dos combustíveis fósseis na inflação americana.
Naturalmente, parte do argumento do presidente era baseada nos preços do petróleo elevadíssimos. Contudo, apesar de ainda estar em patamares altos, as últimas semanas foram de queda no preço do barril, que hoje está abaixo de US$ 100.
As negociações e conversas dos americanos deverão ser tensas, apesar das perspectivas de demanda menos aquecida para o petróleo em 2022, conforme apontou a Agência Internacional de Energia em relatório divulgado na quarta-feira.
Dadas as restrições do mercado, entretanto, é provável que os preços do petróleo não tenham muito espaço para cair muito mais. Isso significa que ainda ajudaria o Ocidente se países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos liberassem mais petróleo, fazendo uso de qualquer capacidade ociosa restante que tenham.
Newsletter publicada no dia 14/07/2022