Os investidores estão se preparando para o IPCA e o payroll de hoje
O Rei da Escócia (2019)
Lá fora, os mercados asiáticos fecharam mais uma vez predominantemente em alta nesta sexta-feira (8), acompanhando as movimentações positivas dos mercados ocidentais de ontem (7), impulsionados pelas notícias de um novo pacote fiscal na China de mais de US$ 200 bilhões. A esperança é a de que os bancos centrais comecem gradualmente a aliviar a política monetária já no final deste ano, em resposta à expectativa mais elevada de recessão global — a alta das commodities ajudou o Ibovespa a recuperar o patamar de 100 mil pontos na quinta-feira.
As Bolsas europeias, por outro lado, não conseguem sustentar tanto otimismo e operam sem uma única direção, repercutindo também uma certa saturação do movimento recente e um novo surto de Covid na China. O pessimismo é ainda maior nos EUA, onde os futuros dos índices amanhecem em queda na véspera dos dados de emprego mais importantes da semana, o payroll de junho. No Brasil, podemos repercutir este movimento global, sabendo que, inevitavelmente, ainda teremos a dinâmica doméstica para digerirmos, com política e inflação de junho no radar.
A ver...
Hoje é dia de IPCA
Na agenda, o IBGE deverá divulgar o IPCA de junho e a produção industrial regional de maio, indicadores que devem trazer pressão adicional para os mercados caso frustrem as expectativas dos investidores. Dados de produção fracos e um IPCA menos aquecido, no entanto, podem ajudar a tirar pressão existente sobre a curva de juros — a inflação ainda pode acelerar na comparação com o mês anterior, mas há espaço para que os núcleos e os dados de difusão apresentem certo alívio.
Em Brasília, os temas ainda são a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023, que ficou para a semana que vem — precisa acontecer antes do dia 17 de julho —, e a PEC dos Benefícios, que também foi adiada para terça-feira que vem, dia 12 de julho, por baixo quórum na quinta-feira (7). Pelo menos foi aprovada em Comissão Especial por 36 votos a 1, não alterando o texto-base enviado pelo Senado e mantendo o esgarçamento do teto de gastos previsto para R$ 41,25 bilhões.
Após a aprovação da PEC dos Benefícios e a rejeição dos destaques por margem ampla na comissão especial, a oposição considera que o texto dificilmente sofrerá modificações em Plenário. Caso tome forma o requerimento dos partidos de oposição para atrasar em 20 dias a votação da proposta, o presidente da Câmara, Arthur Lira, já tem uma estratégia para indeferir o pedido. Dessa forma, parece não haver mais espaço para surpresas em relação ao projeto.
Os dados mais importantes de emprego estão aí
A força de trabalho dos EUA está em foco hoje, com o mercado na expectativa pelo relatório de emprego de junho. O quadro geral dos investidores é que o mercado de trabalho americano ainda está aquecido, mas que tem apresentado gradualmente certo alívio em relação ao início deste ano.
Espera-se que a economia tenha adicionado 250 mil empregos não-agrícolas depois de ganhar 390 mil em maio. A taxa de desemprego deverá permanecer inalterada em 3,6%, perto da mínima histórica. E, por fim, os ganhos médios por hora devem aumentar 5,2% na comparação anual, em linha com maio.
Ontem, os pedidos iniciais de seguro-desemprego para a semana que terminou em 1º de julho mostraram um ligeiro aumento, para 235 mil, acima de 230 mil pela quinta semana consecutiva. As demissões geralmente ocorreram nos mesmos setores que cresceram demais durante a pandemia de Covid-19, ou seja, tecnologia, habitação, armazéns de comércio eletrônico e varejo de grande porte. Os problemas da cadeia de suprimentos também contribuíram no curto prazo.
Os dados de emprego de hoje são importantes porque a segurança do emprego sustenta a recuperação econômica. Notadamente, os trabalhadores têm rendimentos reais em queda já há algum tempo, o que deve significar uma crise de consumo, provavelmente. Contudo, a segurança no emprego dá às pessoas a confiança para economizar menos a cada mês, de modo que elas têm mais para gastar, retardando o declínio da demanda.
A saída de Johnson
No Reino Unido, o índice de Londres ganhou 1,1% ontem e sobe ainda mais um pouco nesta manhã, repercutindo a renúncia do primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, como líder do partido conservador — ele permanecerá no cargo até que um sucessor seja escolhido. Em resposta, a libra esterlina, que vinha passando por estresse por conta do ambiente político, subiu 0,9% em relação ao dólar.
Nos últimos meses, Johnson lutou para superar uma série de escândalos. Contudo, ele não conseguiu aguentar a pressão e renunciou depois que mais de 50 parlamentares entregaram suas renúncias para dizer que perderam a confiança em sua liderança. Assim, um novo líder do Partido Conservador deve ser escolhido até outubro — um dos nomes favoritos é o de Rishi Sunak.
O movimento reflete que o substituto de Johnson provavelmente seguirá políticas semelhantes e que há um prêmio de risco associado à política britânica já há algum tempo, muito por conta do Brexit. Aliás, justamente por conta da perspectiva de recessão e das contínuas disputas sobre o Brexit que a libra e o índice britânico poderão voltar a perder espaço até o final do ano.
Muda o que na minha vida?
Nos EUA, outro destaque de ontem (7) foi a Pesquisa de Vagas e Rotatividade de Trabalho (Jolts), que mostrou 11,3 milhões de vagas no mês, ante 11,7 milhões em abril. Isso deixa cerca de 1,9 vagas disponíveis para cada um dos 6 milhões de trabalhadores desempregados em maio, uma proporção que permanece historicamente alta — a pesquisa mensal do Jolts fornece aos investidores e economistas novos insights sobre o equilíbrio entre os trabalhadores disponíveis e a demanda de trabalho (a diferença entre os dois define a escassez de mão de obra).
Contudo, como poderemos ter a confirmação hoje por meio dos dados de payroll, a esperança é de que eventuais dados de mercado de trabalho americano mais fracos possam dar margem ao Federal Reserve atuar de maneira menos agressiva; afinal, haveria menor pressão ascendente sobre os salários e a inflação. Em outras palavras, a folga no mercado permitiria que o Fed diminuísse o ritmo de aumento de juros.
Por outro lado, ainda que a demanda por mão de obra possa estar esfriando um pouco devido às condições mais superaquecidas em pelo menos 50 anos, as empresas ainda estão lutando muito para contratar. O choque pós-Covid ainda não passou e, em vários países que concederam auxílio para a população, a mão de obra não voltou ao mercado de trabalho com o mesmo ímpeto que saiu dele anteriormente.
Newsletter publicada no dia 08/07/2022