Neblina sobre os mercados: ninguém sabe o que esperar
Peaky Blinders (2013 – 2022)
O ambiente não é dos melhores. Na verdade, muito pelo contrário. A possibilidade de uma recessão nas principais economias no mundo começa a ser precificada gradualmente nos ativos de risco — a inflação, o lockdown na China, a crise energética na Europa e a guerra na Ucrânia aumentam ainda mais o medo dos investidores.
Diante disso, as ações asiáticas caíram nesta terça-feira (13) devido a temores de que o Federal Reserve dos EUA adote uma postura particularmente agressiva ao aumentar as taxas de juros para controlar a inflação nos Estados Unidos, que está em seu nível mais alto em 40 anos. Neste contexto, os futuros americanos até tentam se recuperar timidamente depois da queda de ontem, mas a Europa acompanha a Ásia na queda.
A ver...
Que comece o Copom
Pelo calendário, assim como nos EUA, hoje é o início da reunião de política monetária do Banco Central do Brasil. O resultado do encontro deverá ser apresentado amanhã depois do fechamento de mercado. Hoje, porém, já há quem diga que a Selic não vai parar por aqui, podendo ainda haver mais um ajuste na reunião de agosto — teríamos mais duas altas de 50 pontos-base, chegando a uma Selic terminal de 13,75%.
Entrará na conta os desdobramentos do projeto sobre ICMS, que foi aprovado ontem (13) no Senado. Agora, o texto segue para a Câmara dos Deputados com sua estrutura básica preservada, o que significa transformar combustíveis, energia, telecomunicações e transporte coletivo em bens essenciais, limitando a alíquota do ICMS sobre esses serviços em até 17%. Os impactos fiscais desta medida devem convergir para o preço, abrindo espaço para correções adicionais nos ativos locais.
Um "bear market" americano
Os mercados enfrentam um sério problema de inflação, o que provoca revisões frequentes nas previsões para os movimentos do Federal Reserve. O gatilho mais recente foi o dado de inflação de preços ao consumidor nos EUA da última sexta-feira (10) acima do esperado, deixando os investidores preocupados com a condução da política monetária por parte do Fed.
Por conta desse estresse, os mercados de ações estão oficialmente em território de "bear market" no S&P 500 (queda de mais de 20% de sua última máxima) — o índice caiu 3,9% ontem, acumulando uma queda de 21,8% em relação ao recorde de 3 de janeiro.
Dessa forma, comparações com a década de 1970 não param de aparecer, com a inflação mais alta em décadas, taxas de juros em alta, choques de energia em todo o mundo e ações caras em declínio.
Mesmo com as quedas, os valuations não são muito mais baratos devido ao aumento das taxas de juros e uma perspectiva de ganhos cada vez mais fraca. Uma trajetória mais alta das taxas de juros justifica preços de ações ainda mais baixos.
Anote aí!
Hoje, os investidores ficarão atentos ao índice de preços ao produtor nos EUA, que deverá apresentar alta de 0,7% em maio, resultando em um aumento de 10,8% em relação ao ano anterior. Na Alemanha, contamos com o índice de expectativas econômicas de junho, enquanto, na França, temos a divulgação do PIB do primeiro trimestre do G20. No Brasil, podemos acompanhar o volume de serviços, que deve avançar 0,4% em abril, aguardando também a participação de Paulo Guedes em evento no Brasil Investment Forum 2022, em São Paulo.
Muda o que na minha vida?
Nos EUA, o preço médio da gasolina na bomba ultrapassou US$ 5,00 por galão. Para os investidores em energia, o desequilíbrio entre oferta e demanda parece mais agudo no setor de refino. Neste contexto, começa a se formar uma preocupação elevada com a chance de uma recessão.
Não está claro onde está o ponto de ruptura, mas a gasolina sustenta grande parte da economia, desde transporte e viagens até produção e construção. Também orienta uma parcela significativa do comportamento do consumidor, bem como das expectativas de inflação, o que pode ter consequências ainda mais danosas sobre as perspectivas econômicas.
Considerando que o preço do barril de petróleo pode chegar a US$ 135 até o final do ano, não me surpreenderia ver o preço do galão subir ainda mais nos EUA. Vivemos esta mesma realidade no Brasil, com a chance de eventuais elevações de preço da Petrobras mais do que compensarem renúncias fiscais sobre os consumidores.
Existe uma teoria formulada por Don Rissmiller, economista-chefe da Strategas, de que a economia dos EUA geralmente enfrenta problemas quando a taxa de juros (o custo do dinheiro) somada ao preço da energia (o custo da energia) atinge dois dígitos — a taxa média de 30 anos já ultrapassou 5% e agora, com o preço na bomba acima de US$ 5, o indicador já começa a ter dois dígitos.
Se houver recessão ainda em 2022, o problema será derivado da inflação pura. Se ficar para 2023, no entanto, já seria em função da maturação da política monetária do Fed. Independentemente, o momento é delicado e o estresse sobre os mercados não deve cessar tão cedo.
Newsletter publicada no dia 14/06/2022